terça-feira, 21 de setembro de 2010

O rei saiu do palácio para cabo eleitorar. Quem governa esse reino?

Eu cabo-eleitoro. Tu cabo-eleitoras. Ele cabo-eleitora. Nasce o verbo transitivo direto da primeira conjugação do modo presuntivo, porque a presunção é a de que nunca antes na história desse país, ficou tão evidente que a ausência de um Presidente da República, na função para o qual foi constitucionalmente nomeado (e na qual devia laborar em favor do bem comum), não significa nada para o andamento das coisas. A sociedade continua a se movimentar no sentido de seu natural movimento de evolução, mesmo que o Presidente da República passe o dia inteiro na rua, fazendo comícios em favor da candidata (e aliados políticos nos Estados) de seu partido, viajando de norte a sul (com que verbas, hein?) do país, tagarelando e cumprindo o seu mister primordial, qual seja, o de exercitar o mimetismo popular, fazendo de conta que é do povo e que se importa com o povo, confundindo-se com as pessoas que pensam que ele - o Presidente - realmente governa e é imprescindível para o deslinde dos fatos, ou mesmo, quiçá, para o progresso da nação.


Esse texto é propositadamente curto, pois, depois de muito pensar, não cheguei a conclusão nenhuma a respeito dessa evidência que , para consagrar-se científica, precisa apenas da confirmação da hipótese em caráter reiteratório (terceiro mandato via uma laranjada política?).


O Presidente da República, em campanha como se estivesse novamente se candidatando à reeleição, passa mais tempo que a própria canditada de seu partido nos arredores das praças, em entidades de classe, em meio a artistas (desinteressados, claro) e gravando mensagens para que as empresas de marketing o preparem para dizer que, nunca antes na história desse país, alguma coisa aconteceu (ele escolhe o que nunca antes na história desse país irá nunca ter acontecido).

Perplexidade, é o sentimento que melhor explica o que sente a minha alma, diante do fato de que o Chefe da nação passou o ano inteiro em campanha e ninguém perguntou quando foi que ele governou (eu vou mais além: quem disse que ele governa?). Eu gostaria de poder escrever nesse veículo de comunicação o seguinte: "gente, olha isso: o palácio do planalto está sem ninguém tomando conta e mesmo assim as coisas acontecem como se fosse necessário manter um contigente de pessoas ali, gerenciando a tomada de decisões que afetam todo o país". Mas a idéia de que isso era óbvio demais, ao invés de me desestimular, assustou-me, na medida em que, obviedade patente o fato de não termos presidente presidindo o país, ninguém parece se importar com isso. Isso é o que me importa externar: nunca antes na história desse país, um Presidente da República se dedicou tanto à reeleição de sua sucessora. Eita vontade de ajudar né? Ou estaríamos diante de um caso em que, dada a força com que o Presidente da República faz, inclusive com o uso da máquina pública, para atingir a sua meta principal (reeleger sua sucessora), a tese de um terceiro mandato invisível poderia lograr êxito se defendido por pessoas melhores qualificadas ?

Como nosso objetivo é contribuir para aprimorar o Estado Brasileiro, vamos parar de rir da situação e contribuir para o citado aprimoramento do aparelho que tem como fim promover o bem comum sem discriminações quaisquer (a todos, inclusive os que não forem do PT). Sugerimos que seja incluído no rol das matérias atinentes ao ensino fundamental, uma cadeira que poderia ser nominada "direito básico", no sentido de óbvio, mais do que evidente, inafrontável, onde se ensinaria que o cargo de Presidente estaria atrelado a um rol de funções públicas constitucionalmente atribuídas à Presidencia da República e que a pessoa ou a coisa que viesse, por desejo da maioria, investir-se naquele plexo de poderes legalmente instituídos, jamais poderia confundir-se com o nobre cargo cujo investimento (não estou falando de verba de campanha não) dar-se-ia a luz do Estado Democrático de Direito.

Se o nosso Presidente tivesse a oportunidade de aprender isso quando ainda estava no primário (antigo ensino fundamental), se é que ele possui o primário, certamente não criaria um canal de televisão "do governo", onde pudesse aparecer com sua candidata "inaugurando obras", e cujo tempo é dedicado a divulgação de sua exdrúxula imagem, ao invés de ser aproveitado com documentários, filmes (menos aqueles que contam a história de Presidente lançados em época de campanha eleitoral) e programas que promovessem o aprimoramento intelectual de seu povo.

Alegremo-nos, pois acabamos de descubrir que tanto faz o Presidente estar ou não na presidência, já que um presidente não serve mesmo para governar, mas não nos esqueçamos que há uma equipe econômica trabalhando na surdina (aliás, tem estado fora da mída nos últimos dias) para transformar a petrobrás em petroqueopariu, enriquecendo uma meia dúzia de investidores e políticos que tem informações privilegiadas, enquanto o povo, esse estranho governado, sequer se toca que o presidente não vem presidindo o Brasil há muito tempo.

Viva a não governança, porque corpos desatentos sempre dançaram ao sabor dos ventos. Viva o não nada que não faz tudo o que podia fazer pelo bem comum, viva qualquer coisa que qualquer um pode imaginar o que é, viva o que não morreu, porque nunca existiu mesmo....viva....viva...viva!