quarta-feira, 13 de abril de 2016

O DIA EM QUE A SEMI ASSASSINOU A ÓTICA NO PLANO DAS SIGNIFICAÇÕES POLÍTICAS: O GRANDE GOLPE

     As palavras tem força e poder. São mágicas. Expressões como "democracia", 'Estado Democrático de Direito", "golpe", "ditadura", "coxinha" atrelada à opção política de "direita" e "caviar" , atrelada à opção política dita de "esquerda", vão ganhando conotações modernas e transfigurando o seu sentido ao sabor das intencionalidades. 
     Outras palavras caíram no modismo de seu uso como "intervenção", esta associada à palavra "militar", ao poder judiciário, ao poder executivo e ao poder legislativo, ao poder do dinheiro, ao poder do tráfico de entorpecentes, ao poder das grandes construtoras, ao poder do pão com mortadela e ao poder dos sindicatos.
      Poderíamos ir além, para aludir, por exemplo, ao exército do Stedile ou ao silêncio inexplicável do exército do Brasil. Sua existência significativa talvez possa ser explicada à luz dos interesses postos em jogo.  Um jogo de cartas marcadas onde só há um vencedor. O poder. 
     Sentido, palavra outrora vinculada à exposição física do corpo à fenômenos igualmente físicos e externos, ou, quiçá, à expressão do impacto causado por uma emoção ou quem sabe, ainda, como referência de movimento de um vetor de força ou corpo no espaço, atualmente é utilizado como sinônimo de qualquer coisa que se queira, pois tudo faz sentido, ainda que não faça sentido pensar assim.  
     Os argumentos todos, da direita, da esquerda, dos ascetas, dos apaixonados, dos funkeiros, das prostitutas, dos padres, dos pastores, dos terreiros de candomblé, tudo, exatamente tudo, faz sentido quando se explica suas ocorrência sob o ângulo da autorreferência.  Por exemplo: nossa matéria de hoje faz sentido. Não faz? Em que sentido? Para nós faz todo o sentido. Mas não ficamos sentidos com eventuais oposições.
     Pedalada, por exemplo, hoje em dia, pode significar a ação da Presidente da República ao se exercitar nos arredores do Palácio do Governo em movimentos circulares com o uso da força de suas pernas e pés sobre os pedais de uma bicicleta ou no sentido muito parecido, qual seja, aquela utilizada pela Presidente da República igualmente nos arredores do Palácio do Governo, mas relativa às contas públicas, orçamentos, decretos fantasmas, etc. Fantasmas, outrora expressão que se utilizava para identificar fenômenos espectrais de possível visibilidade, a indicar a presença de pessoas mortas, também vem ganhando sentido próprio, tais como funcionário público fantasma, empréstimos fantasmagóricos (uma pequena flexão) e doações de campanha fantasma. Nós, aplicamos, ainda, à oposição. Oposição fantasma. Imagina-se que possa existir, mas nunca são vistos, pelo menos fazendo oposição.
     Dentre todas as acepções deturpadas pelo contexto do seu uso, a expressão golpe é a que mais nos preocupa. O golpe mais bem dado da história da humanidade ocorre em solo pátrio. O golpe das significações. 
     A cúpula do Judiciário intervém no plexo significativo das leis, para dizer, dependendo do cliente, que isso é direito e aquilo, contrário ao direito. Dependendo do cliente, "isso" ou "aquilo" também podem variar de significação e, se isso ocorrer, muda-se toda a interpretação. Palavras revestidas de aptidão para significar conceitos jurídicos são decompostas à revelia de qualquer processo interpretativo. Isso ou aquilo, se forem isso ou aquilo, podem ou não afrontar o direito, se o direito for entendido como isso. Se for entendido como aquilo, é preciso recontextualizar. Caos também passou a significar outra coisa, mas se entrarmos no mérito do conflito, talvez tenhamos que impedir a existência de órgãos judiciários no país. Talvez cheguemos à conclusão que sua existência é uma miragem ou a paragem em um ponto do sono em que nos habituamos a jamais despertar. A tal ponto que negamos a realidade em si mesma (por não nos lembrarmos de como era ela quando um dia estávamos acordados).
     O legislativo costura uma Constituição Federal tida como rígida com a facilidade de quem cose um vestido que nem chegou a ser usado, só porque saiu de moda. Moda é o que eles determinam que seja. Você está, pois, na moda.
     O executivo não mais tem referência sobre o quê executar, pois a Constituição está sendo cosida, cozinhando o saco e o grelo duro de todos os brasileiros e brasileiras. Ele executa sua própria loucura.
     No plano dos significados, temos que os poderes legislativos, executivos e judiciários de todas as instâncias, estão significando outra coisa. Qualquer outra coisa. Nossos filhos discordarão de nós, pois, ao seu tempo, será absurdo admitir que os poderes devam realmente ser independentes e harmônicos, pois terão sido convencidos que dividir as funções constitucionais é um golpe sem precedentes, um golpe contra a União, pois a expressão União, não mais estará designando o ente político abstraído como resultante da federação, mas união de tudo o que deve ser unido. Igual arroz mal cozido, o chamado "juntos venceremos". 
     Golpe, se existe, está sendo configurado gradativamente no imaginário da população. Nada significará o que é, em seu sentido literal, de acordo com a gramática, no contexto das regras da sintaxe, à luz dos sentidos que a razão poderia fazer inferir.
     Sem que os fenômenos políticos, jurídicos e sociais possam ser explicados à luz da lógica, é impossível organizar o que é república, o que é federativa, o que é Brasil. Chuta aí qualquer coisa que a chance de você acertar é muito grande. Se não ousar chutar qualquer coisa para explicar o Brasil, a sua chance de acerto pode ainda ser maior. Pois certo e errado saíram de moda. É fruto da mente de reacionários que não querem que as coisas mudem. 
     Você continuará onde está, sentir-se-á livre para dizer o que pensa, poderá até criar um código particular de dizer, onde somente você entenderá que está certo e todos os demais serão realojados à óbvia reputação categorizada por você como errados. Quando for pagar impostos, em momento posterior, chame-o de amor. Quando a conta de sua luz aumentar sem qualquer critério de legalidade, chame de carinho estatal. Quando for ao mercado e notar que os preços das mercadorias de necessidade básica subiram astronomicamente, chame isso de fraternidade cósmica.              
     Quando precisar de um atendimento no posto de saúde e notá-lo sem profissionais, estrutura e remédios, chame isso de hambúrguer. Quando estiver velho e tiver contribuído durante anos à previdência obrigatória e receber, quando isso ocorrer, uma mixaria ou quando precisar se afastar da relação de emprego por motivo de doença ou acidente de trabalho e ter que se humilhar perante o INSS e receber pelos meses afastados somente cinco meses depois, chame isso de ioga tradicional. 
     Quando verificar que o partido de sua preferência possui os seus principais criadores na cadeia e condenados pelos juízes que indicaram e sequer foram expulsos do partido, e ainda são tratados como heróis revolucionários,  chamem isso de caridade.
     Quando notar que  todos os tesoureiros do partido que você escolheu  forem condenados e que as pessoas sérias do partido o deixaram e hoje pedem o impedimento da presidente que você ajudou democraticamente a eleger pelo mesmo partido, chamem isso de mentira da oposição.
     Quando o líder sindical que veio do povo, nordestino e pobre, principal personagem político da história de seu partido, é investigado em outros países,  utiliza-se de laranjas para desviar recursos escusos e tudo o que usa é de algum amigo seu, chame isso de bobagem. Certamente, se você estivesse no lugar dele acharia normal que a coisa se processasse dessa forma. Quando a família do líder operário que aprendeu a admirar enriqueceu sem motivos explicáveis à luz de qualquer teoria econômica plausível, e, ao saber disso, você ainda não acreditar, chame isso de taoismo.
     Quando for votar nesse mesmo partido que lhe rouba cotidianamente, mesmo sabendo disso, chame isso de exercício arbitrário das próprias razões, legítima defesa ou estado de necessidade.
    Quando você, por estar recebendo propina de governos,  subvenções governamentais a sua ONG ou qualquer forma pelo qual você se locupleta dos impostos suados pagos por todos os brasileiros, se posicionar contra o impedimento da Presidente da República que lhe proporcionou tudo isso,  chame o fenômeno de dadaísmo espectral.
     Quando você, membro do judiciário ou do Ministério Público ou da polícia, utilizar-se de suas escolas de magistraturas e correlatas para viajar pela Europa, fazendo turismo às custas do mesmo imposto pago pelos brasileiros, ou quando passar mais tempo fomentando cursinhos de formar agentes públicos do que julgando,  chame isso de apostasia espiritual. 
     Quando você estiver perdendo alguma boquinha dentre as milhões que se servem do orçamento público fingindo que produz algo de útil à sociedade à margem da lei ou da moralidade, com plena consciência disso, chame isso de GOLPE. 
     Não deve ser à toa que a maioria das pessoas que são contra o GOLPE vem do funcionalismo público pertencente aos clãs que obtém vantagens pessoais, como professores de universidades públicas que vivem fora do país enquanto os seus substitutos assumem toda a sua função estatutária, membros do MST e da CUT e SINDICATOS, cujas caixas pretas  começam a ser dedilhadas por quem realmente não perdeu, em seu léxico, o sentido verdadeiro da expressão "interesse público". O restante do funcionalismo que não se locupleta do Estado e labora com zelo pelo  funcionamento de seu segmento, mesmo sem receber os seus salários em dia, pode-se chamar de heróis da resistência. É fácil notar a diferença entre uma e outra espécie: os primeiros exercem cargos em comissão e ocupam o serviço público com diploma de nível superior; os segundo ocupam cargos técnicos e trabalham por ambos. Os primeiros têm bom relacionamento político, os segundos apenas trabalham.
     Se você entendeu nosso texto, chame isso de congruência. Se você não entendeu nosso texto, chame isso de batata doce, arritmia cerebral ou baboseira. Você não nos importa.
     Golpe significativo: chamar o que é pelo que jamais fora e fazer, por um processo gradativo de idiotia coletiva, tornar absurdo que o que é seja o que é.
     Contragolpe: Fazer com que o sentido das coisas não sejam outra coisa senão o que verdadeiramente são. 
     Mas tudo é relativo.....isso é golpe, escutamos em algum lugar.
    Imagine que estamos com um martelo sobre sua cabeça e o batemos com força sobre ela. Isso é um golpe, no sentido literal. No sentido figurado, isso é apenas um cascudo para despertar sua inteligência. Viva o Golpe...dos martelos da sensatez.