sábado, 26 de outubro de 2013

A Constituição da República Frankeinsteinica do Brasil: o estranho caso do zumbi que não sabia de sua morte e comemorava o seu aniversário.

Em outubro do corrente ano um zumbi de natureza constitucional comemora o seu aniversário. No bolo, vinte e cinco velas e setenta e cinco cirurgias plásticas; um sorriso artificioso oculta uma série de transplantes e enxertos costurados e ocultados às custas de muita maquiagem. Um ente outrora nascido do amor entre uma sociedade e sua esperança, logo após o parto, sofreu a sua primeira cirurgia. Foi operado em um hospital público e o que era para ser uma mera operação de fimose, visando preservar sua capacidade de geração,  culminou  numa castração, pelo que diz o povo, fortuita. O sangue do coitado, conta-se, jorrou pelo chão. "Uma hemorragia externa!" gritavam os cirurgiões. Os anestesistas de plantão foram acionados, e, na época, atendimentos de emergência eram pagos em dólar.  Aplicaram anestesias tópicas de efeitos prolongados, à base de democracia, alertando ao decepado dos perigos relativos às contraindicações: A ditadura pode voltar ainda mais dura, diziam.
Os médicos não deram baixa ao paciente. Paciente, o paciente, com o tempo, começou a estranhar o prognóstico, e, cansado do leito, que se dizia, esplêndido, perguntou se a fimose era tão grande assim que pudesse haver produzido cicatrizes tão profundas. Alguém lhe anestesiou a língua. Era necessário, constou do prontuário.
ANH! ANH! ANH! tentou falar com as enfermeiras do plantão noturno. As mesmas acionaram a emergência e outro médico apareceu, cortando-lhe a língua. Não deu alguns meses, dopado, ao abrir os olhos, reconheceu o médico que lhe havia extraído a fimose. Com o olhar, queria apenas confirmar que o tamanho da fimose, proporcional ao do curativo que lhe cobria as partes, guardava outras relações métricas que lhes podia interessar, mas notou, subitamente, sobre o curativo, várias palavras escritas em letras minúsculas. Com olhos embaçados, conseguiu notar do que se tratava: democracia, democracia, democracia...formavam figuras bonitinhas como aqueles que se pode notar em fraudas infantis. A democracia era a marca dos produtos utilizados para estabelecer o curativo, e ele nunca mais foi retirado dali, onde nada mais havia.
Para evitar novos reconhecimentos, extraíram-lhe os olhos, e, claro, cobriram-no com mais curativo. Para encurtar a estória, enquanto o baço, o fígado, os pulmões, o coração, os rins, o pâncreas, as moelas e as gorduras eram levadas para os porcos se alimentarem em um pequeno balde enferrujado, as mãos e os braços foram doados para estudos, pois a educação era , de fato, a principal meta social a ser consolidada pelo Estado, discursavam deputados e senadores.
Deixaram apenas os intestinos. Esses poderiam permanecer intactos, pois seriam de efetiva utilidade, conforme extraiu-se do boletim médico. As razões clínicas que determinaram essa opção foram reputadas segredo de Estado. Dado o avanço  da medicina, enxertaram um pedaço dos preservados intestinais no cérebro, e criaram, a partir da célula tronco do moribundo,  um coração, não havendo sido especificado de qual parte do corpo houvera sido extraído o tecido que iria fomentar a sua reprodução. O estetoscópio auscultava, entretanto, sinais de pulsação, embora o odor que se desprendeu houvera constrangido médicos e enfermeiros.
Concluindo o processo de transfiguração do infante de um dia, esticaram-lhe a pele da face, para parecer que estava sorrindo e feliz, e, finalmente, um laudo psicológico que atestava seu inconteste equilíbrio emocional e consciência de existir. Não podia sorrir demais para não se lhe  rasgar a textura.
 O espírito do infante desencarnado, assistia a tudo fora de seu corpo, mas não se desesperou, pois fora criado acreditando na migração das almas. As más línguas diziam que um laudo opcional - uma espécie de plano B - já havia sido elaborado, declarando-o, caso conseguisse escapar, louco e perigoso. Esse laudo, dizem as mesmas más línguas, foi guardado à sete chaves nos anais do Congresso Nacional. Nos anais desse supremo órgão deliberativo foi também ocultado o prontuário do pequeno infante.
O zumbi cresceu grande e forte. Após tantas extrações e mutações, parece mesmo um homem.
Nos dias atuais, o zumbi representa a fonte de todas as garantias e direitos que regulam a sociedade. Como toda mãe, ela acredita que esse monstruoso e costurado ser é mesmo o seu filho. Às vezes desconfia de alguma coisa, mas não tem forças para depurar possibilidades.
A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, completou vinte e cinco anos de existência. Nesse período, sofreu setenta e cinco Emendas Constitucionais, o que resulta numa média de três Emendas por ano. Para que uma Emenda seja introjetada no sistema constitucional, é necessária a sua aprovação nas duas casas, por quorum qualificado, em dois turnos de votação em cada uma delas. O tempo para aprovar uma Emenda Constitucional, deveria ser relativamente extenso em decorrência do amplo debate que se exige para a sua aprovação, pois mobiliza diversos segmentos sociais e entes políticos. Três Emendas Constitucionais devem ter tomado todo o tempo do Congresso Nacional em cada ano de instauração dessa fatídica trilogia.
 Instiga-nos a curiosidade, saber como o órgão legislativo supremo conseguiu aprovar tantas Emendas, e ainda, cumprir o seus mister constitucional de deliberar propostas de sua iniciativa, apreciar projetos de outros poderes, fiscalizar as contas da União, instituir Comissões Parlamentares de Inquérito, elaborar o orçamento, etc, etc, etc,. Caso se conclua pela sua eficiência, restaria questionar a necessidade de tantas Emendas alterando o que o legislador constituinte instituiu em sua origem e quais interesses foram contidos no bojo dessas alterações. Caso se repute necessárias as referidas alterações no Texto Fundamental, e aqui se duvida que possa haver uma explicação razoável, como conseguiram processar, em média, três Emendas por ano?  Vamos alterar a Constituição? Vamos! ÊÊÊÊÊBA!!! Uma, duas, três vezes e já!! Já? Já! Fácil assim? Não entendi a pergunta!? Perdoem. Nós não entendemos ambas as perguntas. Danem-se as respostas!
O zumbi maquiado move-se sobre a ação dos fios invisíveis articulados pelas mãos igualmente invisíveis de artistas ainda não identificados. A marionete parece viva e a sociedade acalenta sua existência apenas porque se movimenta como um ser vivo. As palavras de um zumbi jamais poderiam ser acatadas com tanto servilismo assim. Fala do que lhe é próprio: um nada existencial despropositado.
Que o espírito do infante assassinado retorne ao útero de sua mãe, e, renascido das cinzas de outrora, corte os fios invisíveis que sustentavam os movimentos inautênticos e amorfos de Frankeisntein.
Pinóquio está triste. As atenções se voltaram em outubro do corrente ano, para a Constituição Federal.
O grilo falante foi engolido pelo rato. A primavera entristeceu.

PS: Genetriz Estatal inaugura sua seção de vídeos buscando contribuir, com gotinhas de possibilidades, para a compreensão de Frankeinstein , digo, do Estado no contexto das modernas correntes que o explicam, em linguagem mais direta e alegórica. Que essas gotinhas representem gotas de veneno aqueles que pensam que mentindo ao povo, podem sustentar sua ignomínia por tanto tempo assim.