segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cambridge para you Harvadiar - ou - dá um trocadinho aí moço?

Recentemente assisti um documentário sobre a Universidade de Cambridge (Inglaterra) em um desses canais da vida e fiquei estarrecido com a enorme distância existente entre o sistema de ensino superior da Inglaterra e o brasileiro. Senti-me uma barata e, numa síndrome de pânico muito mais profunda do que aquela descrita por Kafka, fiquei com medo de sair de mim mesmo, pode? Pode. O atraso que nos cerca dista de séculos. Isaack Newton passou por Cambridge, enquanto pela Universidade de Pangaré do Sul, Joãos e Marias se divertem com a casa de quitudes (conhecimento) que, parecendo uma casa, alimenta pesadelos mais do que abriga possibilidades. A bruxa da estória chama-se ignorância. Ela costuma ganhar eleições e está em todos os partidos políticos. Doces ou travessuras?
Fiquei impressionado, em relação à Cambridge, com a maestria na construção da simbiose entre o moderno e o tradicional, entre o rígido e o flexível do que há de melhor em matéria de produção de conhecimento. Ali se ensina que Newton se recostou em uma das árvores para meditar sua teoria gravitacional e que dezenas de prêmios Nobel literalmente andarilharam pelos seus antigos prédios. Andar por entre tijolos centenários para produzir a mais legítima física quântica,  destruindo paradoxos artificialmente erigidos pela ausência de observação.
Em Cambridge, mestres lecionam sobre o conhecimento que superaram, fomentando ainda mais a latente superação porvir, oriunda de cada possibilidade representada por cada um dos admitidos em seus quadros.  Dá-se uma  aula em que nada se pode perguntar, sendo admitidas poucas intervenções pelos acadêmicos, e, ainda assim, desde que providas de inexorável imprescindibilidade circunstancial. Somente em momento posterior (outra aula de natureza diversa)  é que se permite o debate monitorado pelos professores auxiliares, que para atingir o mestrado, precisam saber-se por superar (espero ter sido claro).
Por curiosidade, consultei o orçamento da educação para o ano de 2012 e, tristemente, constatei que serão empregados no ensino superior cerca de 9,5 bilhões de Reais em todo o país. Para que se possa ter uma vaga idéia do que se pretende aqui externado, o orçamento de Havard em 2005 foi cerca de 25,9 bilhões de dólares americanos (naturalmente). O que se aplicou em Havard em 2005 (em moeda americana) é quase o que se aplicará em educação no Brasil em 2011, na sua totalidade, ou seja, incluídas as verbas de todos os níveis de ensino e os projetinhos para ensinar pessoas a escrever e ler letrinhas, que via de regra são destacados no orçamento, pois compõem o chamado Fundeb, EJA, etc... Serão 65 bilhões de Reais (brasileiros, naturalmente), um orçamento que se pode reputar, em que pese o nome de nossa moeda, verdadeiramente lúdico (o único caso em que o lúdico e o real se consorciam).
Recentemente foi publicado um dos estudos voltados para a classificação das universidades do planeta, publicado pela Times Higher Educations, de cuja lista se nota ressaltadas as universidades norte-americanas e inglesas, competindo acirradamente com as européias e australianas. A universidade brasileira melhor classificada foi a USP, na posição 178, não havendo nenhuma outra universidade brasileira classificada entre as duzentas melhores. Havard é a segunda, perdendo, neste ano, para a California Institute of Technology. Havard curiosamente foi criada por um ex-aluno de Cambridge.
Há nesse rol instituições públicas, com ou sem investimento particular e particulares, com ou sem subvenção pública, demonstrando que essa discurssão pertine apenas à análise do revestimento cultural dos povos e que o talento, lastreado pela inteligência e esforço (porque nada é fácil mesmo), costuma dar resultados.
Nós, baratas escamoteantes que bamboleiam entre as paredes da idiotice e da politicagem, sob o teto da covardia, instrumento preferido dos analfabetos que gerem o país, distribuímos diplomas para aumentar as estatísticas fomentadas pelos chimpanzés de plantão, para dizer que, no mundo de joãzinhos e mariazinhas, percentuais insólitos ingressaram no chamado "nível superior". Crianças...acordem pelo amor de Deus!!!!
Perdoe-me a casuística pessoal. Meu filho ingressou na Universidade Federal do Paraná e, considerando que a matrícula é semestral, efetuou sua matrícula dentro do quadro de matérias disponível, o que engloba as matérias obrigatórias e optativas. Iria se formar no final desse ano mas a bruxa apareceu e os doces se derreteram, fazendo esmolecer concepções juvenis anteriormente recheadas de esperança e fé.
Há poucos meses do final do curso, informaram que o horário da matéria optativa para a qual se inscreveu foi alterado, alterando as condições que, no início do semestre, haviam sido disponibilizadas para os alunos. Como esse acadêmico trabalha em banco público (20 anos, vai ver que não leva a vida a sério né?) e havia se matriculado na optativa que atendia, dentre outros critérios, ao horário cujas aulas poderia frequentar, diante da alteração unilateral promovida pela dita universidade, teve que atrasar a conclusão do curso por um motivo para o qual não deu causa, tudo para concluir uma matéria que sequer obrigatória é. Uma alteração unilateral produziu num jovem a sensação do impacto que toda a realidade do sistema universitário brasileiro faz produzir: asco pela falta de organização, pelo desdém com a perspectiva pessoal dos acadêmicos e com um talento que no Brasil atinge níveis preocupantes: o de reproduzir  incompetência em progressão geométrica e tornar regra o que sequer em  exceção poderia ser constituído.
Como advogado, já estava preparado para diligenciar sobre o ocorrido e trabalhar em cima da medida judicial cabível, mas fui impedido por este aluno (um dos poucos que iria se formar sem reprovar nenhum semestre) sob o argumento de que esse episódio servirá de experiência para o futuro, quando poderá provar que as coisas podem ser diferentes.
Num misto de orgulho (pelo meu filho) e asco (em relação às universidades locais), decidi escrever sobre o tema, para denunciar o desdém a que está relegado o sistema de produção de conhecimento no Brasil, mas apresentando paradigmas indiscutivelmente imitáveis, cuja superioridade me fez (e faz) sentir como uma barata, tonta de não acreditar nessa quase incomensurável distância que separa o ensino superior inglês e americano, dessa coisa que temos aqui. O ensino inferior de terceiro grau.
Se alguém estiver me vendo: uma esmolinha por favor...
Não precisa ser dinheiro não. Pode ser em forma de exemplos mesmo.
Havard nasceu de Cambridge. Quem sabe, com essa tecnologia toda, o DNA da Cambridge não seja doado à USP para a melhoria da raça?
Ensinar nossos filhos a pensar e estudar pode ser prejudicial a saúde....
dos governos e dos governantes.
Ugh!!!!!