terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar. Quer brincar?

    
          Incongruências lógicas tomam conta da nação num ano politicamente fervilhante. Vamos direto ao ponto. Um partido dito dos trabalhadores que cresceu vomitando palavras de ordem sobre a ética e fazendo dela a sua bandeira, foi responsável pelo maior sistema de drenagem de recursos públicos que a história nacional já registrou.
     Se fizermos uso da razão, notaremos que estamos diante do seguinte quadro: a Presidente da República viu processado o rito de pedido pelo seu  impedimento político pela Câmara de Deputados. O Presidente da Câmara é acusado pela Procuradoria da República em consequência do desenvolvimento da operação chamada pelo apelido de lava jato. Esse mesmo personagem sofre um processo interno onde se busca a cassação de seu mandato. Violou preceitos éticos ao afirmar que não possuía conta na Suíça em plena apuração oficial na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura escândalos na Petrobras, uma das maiores e mais importantes empresas com capital público do país, núcleo em torno da qual os escândalos foram inicialmente identificados. O banco suíço confirmou a existência das contas, mas no nome de pessoas de sua família. Outro argumento (esdrúxulo) utilizado por esta figura, e a cada hora se fala algo diferente, é o de que há uma truste que administra recursos há muito angariados com negócios de carne enlatada, da qual seria apenas beneficiário (não titular). Você tem mãe? (indaga-se ao Eduardo Cunha)
     O Presidente do Senado, que já havia renunciado o seu mandato em outra ocasião para não ser cassado, e, estranhamente reeleito para esse importante cargo, também é acusado pela Procuradoria da República onde se investiga uma multiplicidade de delitos, quase todos, com seu nascedouro existencial em irregularidades encontradas na mesma Petrobras. Ambos - Presidentes do Senado e da Câmara de Deputados - são do PMDB.
     No processo de recondução do Procurador Geral da República, descobriu-se que deu guarita a seu irmão, numa certa época, procurado pela Interpol. Esse fato foi tratado pela mídia com a mesma ênfase de quem notícia a roupa nova do papai noel no shopping de uma cidade qualquer. Mas o cargo que ocupa detém exclusividade para a propositura da ação penal perante o STF contra agentes políticos como Senadores, Deputados, Presidentes da República etc. enquanto o  papai Noel apenas dá presente as crianças que se comportaram durante o ano. São tão e similarmente desimportantes assim esses fatos?
     Ao mesmo tempo, o Senado aprova a indicação da Presidente da República para colocar no órgão de cúpula do judiciário o Ministro Fachin, eleitor de Dilma, a então Presidente da República. A sessão foi coordenada pelo Senador do PMDB identificado pela lava jato como integrante da polêmica apuração de delitos complexos identificados pelo juiz Sérgio Moro, verdadeira reserva moral brasileira.
     Dado o início do processo de impedimento, iniciado por Cunha, Presidente da Câmara de Deputados, e alvo da lava jato, o procedimento é estacando pelo STF, representado pelo Ministro...claro...Fachin, indicado pela Presidente cuja cassação se busca, aprovado pelo Senado de Renan, numa roda política que muito faz recordar aquela cantiga que inocentes crianças cantarolam em momentos de total distração: "ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar".
     O maior partido de oposição - o PSDB - leva em banho-maria a sua indignação. Todos os líderes do partido ou quase todos receberam recursos das mesmas empresas envolvidas nos escândalos que deram origem a operação lava jato. Tudo legalmente estabelecido, afirmam. Os processos noticiados pela mídia como os da corrupção em licitação da Alstom para aquisição de trens do metro, reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo foram quase esquecidos. A CPI das contas secretas na Suíça por meio do HSBC sumiram, da mesma forma, do noticiário.
     Durante muito tempo, na maior cara de pau, o Presidente da Câmara não escondeu que iniciar ou não iniciar o processo de impedimento presidencial era objeto de barganha. Pouco importa, até aí, o Estado Democrático de Direito, aquele onde os cargos possuem deveres e funções regulados pela lei, não para a sua própria conveniência, uma vez que o interesse do país é maior do que a de qualquer acusado.
     Nessa loucura, surge personagens da direita enlouquecida, que condena kit's gay mas se encosta no ator Alexandre Frota para dar publicidade ao seu apoio, ator esse que participou de filmes pornográficos e que recentemente contou inebriado como "papou" uma mãe de santo num terreiro de candomblé, em um certo canal de televisão. A defesa da família. O líder da direita, exímio caçador de comunistas, faz parte de um dos partidos que mais se envolveram em corrupção, o PP (partido progressista), mas não se vê nenhum movimento desse ex-militar combatendo a corrupção dentro de seu próprio partido. Ele também não sabia ?
     No último movimento da sociedade, em prol do impedimento da Presidente Dilma, houve uma sensível redução de manifestantes. O motivo é óbvio: a oposição, cagona e provavelmente envolvida em esquemas com o governo, tenta galopar um movimento a que não ajudou a dar corpo e que é, em algum grau, originariamente de famílias digamos normais, instruídas, que não permitirá que a ralé política polua um intento que é puro, cuja mensagem pode ser resumida pela frase: chega de sacanagem. Outro motivo que circulou nas redes sociais é a de que se tratava do dia da edição do AI-5, num tentativa de vincular alhos com bugalhos. Neste dia o Flamengo sagrou-se campeão do mundo e nenhum vascaíno associou a data com essa conquista inesquecível. No dia 13 de dezembro não comam para não pensarem que o ato de se alimentar está associado a edição do famigerado AI-5. A burrice anda solta por aí, pega e pode também reduzir o tamanho do encéfalo.
     Movimentos organizados já começam a vender camisetas, broches, pixulecos, dilmecas, e, embora seja factível que precisem se capitalizar para manter os movimentos funcionando, o que pensamos ser razoável, preocupa-nos a ausência de argumentos estruturais capazes de convencer a população de que o sistema político está falido. Sem novidades estruturais, trocaremos os imbecis da esquerda pelos imbecis da direita e o país não conseguirá sair do mar de lama a que se viu atolado nos últimos tempos. O problema da rachadura das represas em Minas Gerais apenas consolidam simbolicamente que a estrutura política do país está em vias de trincar. Se isso ocorrer, tal como ocorreu em Mariana, seremos todos levados pela lama e muito provavelmente não nos acharemos mais. Quem celebrará a missa pelo falecimento moral da comunidade brasileira?
     O que se pretende denunciar é a ciranda do poder, a falsa oposição e fictícia briga política que não tem outro objetivo senão reorganizar as mesmas forças que destroem o espírito nacional, substituindo velhacos velhos por velhacos novos. Todos os postos do poder estão sendo preenchidos por picaretas institucionalizados pela rede de corrupção instalada no país há muito tempo para acomodar interesses. Um crápula não entrega o outro porque fazem parte do mesmo grupo de interesses, embora alocados em partidos distintos.
     A ciranda do poder envolve empresas públicas e privadas, bancos, ong's, grupos organizados, clubes de interesses qualquer que seja a sigla sob a qual se apresentem, a pretexto de filantropia ou não, igrejas e suas fés e suas fezes, verdadeiras lavanderias de interesses outros, partidos políticos agrupados por nexo de pilantragem, ora estrategicamente empulhados à direita, ora ao centro ou à esquerda, PCC's e comandos, literalmente, da capital.
     Para encerrar, vamos mudar o enredo dessa rodinha popular. Não vamos cirandar contra os interesses do país, nem dar a volta e meia ou meia volta porque todos os caminhos fazem chegar, do jeito que está, ao mesmo lugar.
     Proponho brincarmos um pouco de pega-pega. Está contigo!