quarta-feira, 2 de março de 2011

Em terra de cegos, quem tem miopia não pode afirmar que viu.

Estava lendo o jornal Folha de São Paulo na internet, quando me deparei com uma notícia imprensada do lado direito de quem ao jornal lê, dando conta que nosso excelentíssimo ex-Presidente da República vem faturando alto com palestras a empresários interessados em ouvir acerca de suas experiências e, pasmem, seus conselhos econômicos.

Achei curioso que um ex-metalúrgico, ex-socialista, ex-sindicalista, pudesse congregar empresários ao seu redor para dar, dentre outros, lições de economia. Haveria se tornado também um ex-analfabeto econômico ou um ex-idiota que combatia o capital até chegar à Capital do país?

Enquanto lia a notícia imprensada na tela, comecei a questionar minha própria capacidade de lidar com mudanças, bem como o excesso de severidade com que julgava o meu próximo. Porque esse personagem de nossa história havia finalmente encontrado o seu "eu interior" e descoberto que sua grande paixão era mesmo o capital (não me refiro a obra de Karl Marx), após haver embarcado na Capital e conhecido o Capitolum e o Presidente Obama, isso não seria motivo para repudiá-lo, repugná-lo ou deixar de amá-lo, ainda que sua história política tenha sido construída através de uma personagem criada pela Ford, que berrava em megafones que o povo unido jamais seria vencido, criara o partido (desmantelado?) dos trabalhadores e combatia o mesmo FMI para quem autorizou o empréstimo de milhões de dólares em seu governo.

Envergonhado, culpei-me pelos sentimentos que brotavam da minha alma. Afinal de contas, todos tem o direito de mudar e se o Lula compreendeu a importância da livre iniciativa, porque não aplaudi-lo e prestigiar as suas palestras?

A notícia deu conta de que estaria cobrando cerca de R$ 200.000,00 (duzentos mil Reais) por palestra e que sua agenda estaria lotada. Ora bolas, o que tem isso de mais? (ruminava meu "eu inferior" esquisofrenando o embalo daquelas indagações impertinentes).

Para o estrangeiro, o valor era bem maior, informava o respeitável veículo de imprensa, imprensando a nota sobre o fato do lado direito de quem olha a tela do computador.

Ironias à parte, o que um analfabeto que não consegue sequer falar direito poderia ensinar à Votorantim, à Gerdau, à empreiteira Essa e Aquela? Reposta: "informações privilegiadas".

Virou moda ex-presidentes da réles pública sobrevier de palestras cobrando quantias consideráveis (o jornal informa que o Fernando Henrique cobra em torno de cento e vinte mil) e, se como políticos não entendem porra nenhuma de economia, a única explicação viável aponta para o fato de que, desde a era Clinton nos Estados Unidos (que iniciou o modelo em amplitude internacional), inventou-se uma nova forma de vender informações privilegiadas: "fingir que vai dar uma palestra".

Ei, berrou a minha consciência: "você não pode pensar assim. É mesquinho e você não pode provar!".

Então eu acordei desse pesadelo que me acossou a paz durante virtuais segundos e, suado, pude constatar que tudo, exceto a notícia que eu li, não passara de um preciosismo de minha mente, mentindo para a minha realidade, na concepção de meus adormecidos traumas existenciais. Sigmund , o psicólogo, sorriu de mim ao lado de Dante.

Claro, pensei: "por duzentos mil Reais o Lula pode ensinar os empresários a ganhar dinheiro né!?

Claro, se o espaço alugado para receber os interessados comportar cerca de duzentos lugares, o "ingresso" custaria cerca de mil Reais. Mil Reais para ouvir o Lula falar......já ouvimos falar em lavagem de dinheiro, mas de informações privilegiadas.....cchhhiiiuuu! alertou minha consciência.

Claro. Todos tem o direito de se reunir pacificamente. Vou me reunir com o bom senso de toda uma nação (bem longe de Lulópolis, de preferência).

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