sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

O mito da caserna: a paródia que nem Platão ousou explicitar.

    Hoje ocorreu-me de falar sobre o fenômeno do Bolsonarismo e sua associação com a caserna, fenômeno agigantado no imaginário popular e que ganhou corpo com o advento das redes sociais. Antes preciso noticiar-me historicamente. 

    Servi às forças armadas como praça da aeronáutica por catorze anos, havendo ingressado com dezesseis anos, após ser aprovado por concurso público em uma escola de formação militar. Mas preciso alargar meu histórico para dar uma dimensão ao leitor da perspectiva que começo a construir sobre o fenômeno do Bolsonarismo no ambiente da caserna. Sou, ainda, filho de militar, passei grande período de minha infância morando numa vila militar isolada da cidade, local onde fiz grandes amizades, quase todas elas remanescendo, menos do que eu gostaria, até os dias atuais. As redes sociais facilitaram a manutenção desse contato.

    Meu desligamento se deu a pedido, após haver me formado em direito. Sai pela porta da frente e classificado no excelente comportamento (como, eu ainda não descobri). A última frase que ouvi foi na seção de investigação (inteligência), última de uma série de seções pelos quais devemos passar para obter uma espécie de quitação geral na unidade militar. Eis a frase: mais um militar competente pedindo desligamento. Nessa época, muitos colegas pediram para se desligar da força, por motivos vários. 

    Por que essa introdução me pareceu necessária? Para esclarecer ao leitor que venho de um ambiente formado por valores militares, que minha saída foi voluntária e fruto de uma opção pessoal, mas que, de outro lado, conheço um pouco do ambiente explorado politicamente por Bolsonaro e, em alguma medida, os próprios valores que são mobilizados por essa personagem na hora de implementar suas escolhas políticas.

    Quando Jair Bolsonaro deu a fatídica entrevista para a revista Veja, foi ovacionado pela grande maioria na caserna, especialmente pelos praças. É necessário, se desejar o leitor compreender o que pretendo externar, contextualizar historicamente as ocorrências. Nessa época, os militares questionavam os seus baixos salários. Ouvia-se muito a turma dizer que era injusto que um controlador de tráfico aéreo que tomava conta de um centro de controle de área (do espaço aéreo), com quase trinta anos de serviço, ganhasse menos que um copeiro do legislativo recém empossado. Cá entre nós, estavam certos. 

    Aos poucos vou complicando o contexto e apontando os paradoxos que a caserna propicia aos seus integrantes. O salário era indigno da responsabilidade assumida e ainda mais indigno se comparado à remuneração e vantagens percebidas por outros servidores de outros poderes. Se imaginam que a comparação salarial realizada pela tropa buscava reduzir a importância ou o valor percebido fora da caserna, pode esquecer. Não. A inconformidade buscava apenas denunciar a desproporcionalidade em razão da responsabilidade assumida e única e exclusivamente o reconhecimento financeiro decorrente da atividade militar. No ambiente da Aeronáutica (pois em relação às outras forças as motivações pareciam ser, similares em natureza, mas distintas em sua justificação). Sinto que vou me estender, por isso vou direto ao ponto. Alguns desconhecem essa realidade que almejo traduzir a quem, ainda,  eventualmente,  esteja a ler este texto.

    Contexto histórico e sintético: eleições diretas, nova Constituição e transição entre regimes.

    Nas primeiras eleições diretas para a presidência, dos cerca de quinze militares que compunham a minha seção, apenas dois buscavam alternativas liberais, dentre os quais eu me incluía. Dez votavam em candidatos de esquerda, dividindo-se entre Brizola e Lula, com predominância para este. O restante era centro. O que pretendo relevar nesse momento? Que a ideia de que o militar era de direita não fazia nenhum sentido para mim. Que era militar e via o que ocorria na caserna. Para que o leitor possa fazer alguma ideia, imaginem isso: lia no período de descanso, um livro cujo título era "o reizinho populista" que eu havia encomendado do Instituto Liberal. Os colegas de trabalho ironizavam a escolha por se tratar de um livreto de cunho liberal, como se fosse a coisa mais absurda do mundo. Algo muito semelhante ao que se vê nas redes, mas promovidos por adoradores da esquerda mais patológica. Na sua percepção você conseguiu imaginar a cena, sabendo que estávamos num ambiente de trabalho e militar? Nessa época eu tinha cerca de dezoito anos. Casos assim ocorriam com frequência. Ironizar a simpatia pelo liberalismo econômico sempre foi uma forma oblíqua para isolar autonomias dotadas de alguma racionalidade não grupal. Não acredita? Como eu lamento! Hoje acredito que algo tenha mudado e nem sei dizer se para melhor.

    Na questão salarial, cara aos militares (é quase um vício falar em salário na caserna), Bolsonaro uniu o muito que havia de esquerda na corporação com o quase nada que lá havia de direita. A sociedade, fora da caserna, não faz ideia do quanto isso mobiliza os militares. Aquela época, ainda mais.

    Quando saiu candidato a vereador no Rio, teve apoio da tropa, que se identificou com o argumento do desprezo que os governos da nova ordem dedicavam aos militares na questão salarial. FHC contribuiu para o acirramento dos ânimos e foi o primeiro a dividir a caserna entre praças e oficiais superiores. Modificou a Lei de Remuneração dos Militares e deu gratificações para quem tivesse cursos que só os oficiais poderiam fazer. Antes, o soldo dos praças era vinculado ao soldo do Ministro da força correspondente. Como eu disse, para entender o fenômeno do Bolsonarismo, é necessário compreender o contexto histórico e cronológico das ocorrências políticas relacionadas às forças armadas. Já o ouviu falar de FHC? Espero que tenham compreendido o objetivo que Jair buscou com sua falas. Política pura!

    Outro aspecto que merece relevância, diz respeito aos ciclos geracionais dos ingressos nas forças. Antes, para ingressar como praça por meio de concurso público, era necessário ter diploma de primeiro grau completo. Conforme as novas gerações de militares foram ingressando, o comportamento da tropa, agravado pelos baixos salários, compeliu-a a buscar no aprimoramento educacional uma saída alternativa para complementar sua renda, e, quem sabe, prestar concursos para outros cargos em outros poderes, onde se pagava melhor. Muitos saíram das forças e migraram para a estrutura de outros poderes, não por indicação política, mas por concurso público. Tenho colegas que, atualmente, estão trabalhando em vários órgãos públicos de ambos os poderes.

    Esse movimento é muito mais relevante do que pode parecer para quem lê esse texto e não conhece o ambiente da caserna. Não eram raros os casos em que um capitão, que outrora comandava um subordinado com o primeiro grau completo, tivesse que dar ordens a um subordinado com doutorado obtido na Alemanha e fluente em ao menos duas línguas estrangeiras. Isso dá uma ideia do que pretendendo explicitar ao analisar o fenômeno? Quando sai da caserna, na minha seção, deixei alguns doutores ou doutorandos, mestres ou mestrandos, quase todos com curso superior e apenas um que optou por outro caminho.

    Bolsonaro soube explorar politicamente um ambiente cujos valores dominava, cuja linguagem conhecia e, talvez o mais importante, cuja transição interna era de seu conhecimento. Está nos praças e nos oficiais subalternos a sua força dentro da caserna. Não parecia ter muita aderência entre os oficiais superiores. Não se elegeria tantas vezes ao cargo de deputado federal se não tivesse uma base sólida a dar sustentação às suas pretensões políticas.

    Mas viremos a própria mesa. Como fui criado em boa parte da infância em Santa Cruz (meu pai servia na base aérea de Santa Cruz), zona Oeste do Rio de Janeiro (o outro Rio de Janeiro que não sai nas fotos), e mantive algumas relações por lá, mesmo depois de adulto, não é novidade a ligação de muitos militares, a maioria da reserva, incorporando-se, como ocorreu com a polícia militar local, no esquema das milícias. Acredito que esse esquema é, em grande medida, responsável por muitos dos votos recebidos por Bolsonaro. Também não é novidade para mim, que alguns compunham até o equipes de segurança de chefes de facções ligadas ao tráfico de drogas (bicos?). Eu mesmo tive amigos que morreram em briga com garimpeiros por conta da sua atividade paralela (contrabando de ouro e pedras preciosas) em Boa Vista (Roraima). Jair Bolsonaro, vale lembrar, garimpava. Para quem estava na caserna isso soava normal ("complementar rendas"). Nenhuma novidade representava as notícias dando conta do envolvimento de militares na região amazônica com os garimpeiros e mesmo com os hoje chamados povos ancestrais (hoje alvos de uma política vil - carne de piranha para interesses internacionais -  e de uma imprensa embriagada). Também intuo porque os aviões que cruzam as fronteiras não são abatidos ou controlados pelos sistema de vigilância e defesa aérea e controle de tráfego aéreo. As desculpas apresentadas à sociedade são multifacetadas, mas nenhuma delas me convence. 

    Recordo-me de uma operação sigilosa de combate ao narcotráfico e aviões na região Norte do Brasil. Todos os envolvidos participaram de um briefing de coordenação entre os diversos setores. Era tão sigiloso que não poderíamos sequer comentar com nossos familiares. Tomado pelo senso de missão que me fora apresentado, cheguei em casa e procurei esquecer da operação. Eis que, assistindo ao programa da Globo - Fantástico - a operação é noticiada em rede de cadeia nacional para todo o país (como alerta para os traficantes mais do que como notícia aos telespectadores). Espero que tenha conseguido passar a imagem correta da realidade dentro das forças. O sistema é complexo e abrangente. Afirmar contundentemente isso ou aquilo em relação ao ambiente militar tem grandes chances de conduzir ao erro. O sim e o não coexistem ali dentro. Por isso, sempre que posso, insisto na defesa institucional das forças e a defesa institucional das forças está umbilicalmente ligada à Constituição Federal e ao sistema legal pertinente. E também em fazer constantes faxinas nas instituições para expurgar quem não exercita os valores ali ainda preservados ou quem apenas finge que os tenha incorporado. 

     O valor nasce do exercício derivado das escolhas realizadas, inicialmente, em caráter individual, o que defino como conceito como algo mais próximo ao de identificação. Quando ganha corpo entre vários indivíduos, se solidifica em um ambiente social mais extenso (transforma-se em valor), por um tempo indefinido, até que a razão o descaracterize como fonte racional de percepção do que poderia ser convalidado.

    Nesse sentido, causa estranheza boa parte da sociedade, em especial a base do chamado bolsonarismo, identificá-lo como de direita e como liberal. Um exemplo que talvez esclareça a conclusão que me conduz a essa estranheza. Certa feita Bolsonaro deu uma entrevista a um jornal identificando a caserna ao comunismo, fato que no período eleitoral foi muito explorado nas redes. Ele, repito, conhece o seu eleitorado e boa parte dele provém da caserna, em especial, dos graduados (praças).

    A comparação não é de toda desprovida de realidade. Na caserna, todos usam a mesma vestimenta (farda), suas residências são réplicas umas das outras, todas iguais. O linguajar (o que se dá em qualquer outro segmento da vida social) é uniforme. O Estado é deificado e a fonte de pagamento dele provém. Isso não é uma crítica, mas uma constatação. Ao leitor, refletir sobre isso é tentar imaginar o ambiente onde Bolsonaro se criou politicamente. Outra entrevista dá conta do elogio feito ao venezuelano Chaves. Quem conhece a história de Chaves na Venezuela não pode se esquivar da corrente que jaz no subterrâneo inconsciente de um ex-militar extraído da caserna e o porquê de atingir grande parte de seus integrantes.

    Um candidato que abriga em seu gabinete pessoas ligadas à milícia, em especial, à carioca, que empresta sua força política, como o fez diversas vezes e no parlamento, às pessoas condenadas e ligadas a essa asquerosa organização paramilitar, não pode discursar sobre valores tipicamente militares, entendidos assim aqueles que se ensinam na caserna, particularmente, nas escolas de formação militar. Não faz parte da estrutura de valores militares apoiar bandidos. Ou faz? Aí a coisa pode se tornar, ao leitor, ainda mais complexa. Vista de fora.

    Um liberal jamais declararia voto em Lula, a quem o vereador Bolsonaro  reconheceu honestidade e em quem declarou expressamente o seu voto. Um combatente do comunismo não poderia discursar no parlamento em favor de José Genuíno para Ministro da defesa, o que Jair fez, então deputado federal, elogiando, inclusive, os "companheiros do PT". E então? De onde brota a confusão e qual a natureza da salada mista que Jair conseguiu promover na ordem política brasileira?

    O que eu infiro é que o elo que une a dita esquerda à dita direita no Brasil é o nacionalismo. Nacionalismo verdadeiro? É evidente que não. Mas quem o compreenderia?

    Em qual país do mundo uma aeronave militar e presidencial é apreendida com cocaína em grande proporção e somente no estrangeiro? Realmente não consigo compreender a facilidade com que o povo é ludibriado no Brasil. Parte da grande mentira consolidada está na falta de conhecimento do ambiente da caserna. A grande maioria, composta de pessoas de bem, mas, como sabemos, a grande maioria não comanda a grande maioria né? Quem pagou o pato na histórica da cocaína presidencial? Apenas o sargento. Todo o resto já foi, há muito tempo, esquecido (se é que "não lembrado" não traduz melhor a ideia que se pretende aqui externada)! O sargento, refletido no imaginário popular, passou a ser o injustiçado e, o sargento (persona coletivizada), o mesmo do imaginário popular, acompanhou essa notícia em todos os quartéis do país. Alguém já leu recruta zero? Ou conhece o sargento Pincel? Mas o sargento já foi preso e é isso que interessa no momento (diz o general).

     Aliado ao nacionalismo, outro fator parece emergir na consolidação do chamado "bolsonarismo". É o senso de inclusão encampado nos discursos de Jair aos seus eleitores militares. Foram, de fato, tanto tempo menosprezados pelo poder político, que serem lembrados e incluídos numa plataforma política de campanha arrefeceu o seu senso de pertencimento. Em se tratando de uma categoria cujos integrantes não podem ser filiados a um partido político (estou rindo por dentro), e nem se envolver diretamente em campanhas eleitorais (já estou gargalhando silenciosamente), aderir a uma voz política que possa defender os seus direitos é uma consequência política natural e previsível. Permita fazer um remendo histórico nesse atual estágio do texto: conheci o MST (Movimento dos Sem Terra) a convite de um colega de caserna filiado ao PT, colega que hoje ocupa alguma embaixada na Europa. Estou conseguindo traduzir a realidade da caserna?

    Equivoca-se grosseiramente quem imagina que seus generais, almirantes e brigadeiros não fazem política. Não pedem favores políticos e nem gozam de boas relações políticas. Será que não notam o movimento? 

    O que sustenta o voo do movimento bolsonarista no país não possui natureza exclusivamente política, mas encampa alto grau de conhecimento sobre controle psicossocial e comportamento de massa. Deu aos integrantes da caserna senso de pertencimento, de natureza grupal, não sendo necessário apontar que as escolas de formação militar, assim como em ordens religiosas, tem grande poder de cooptação psíquica de seus integrantes. São doutrinados a viver em espírito de corpo. De certa forma, todo agrupamento institucional que congrega pessoas, reunindo-as sob as bases de um código específico de valores funciona de forma similar. A hierarquia e o sistema de obediências, comuns às ordens religiosas e militares, retira de seus integrantes, em grande medida, o senso de individualidade. Isso é uma crítica? Não. Uma realidade. A hierarquia está na base de toda organização. A disciplina também. O que diferencia ordens religiosas e militares é a rigidez do método, a natureza da doutrina e a finalidade institucional. Se entro no mérito da utilidade e necessidade? Não. Há motivos que justificam tais modelos mas, o que posso dizer em relação à caserna, é que os motivos, as diretrizes e os valores, nem sempre são observadas por quem os impinge aos seus subordinados.

    Como no mito da caverna de Platão, a sociedade vislumbra sombras dançantes projetadas na paredes que sustentam o espaço escurecido onde estão acorrentados. Chamam-na caserna, associando a ideia implantada em seu imaginário com substantivos agregados. Militares são isso, as forças armadas são aquilo, alguns, pejorativamente, chamando de milicos aos militares, outros, de onde olham, acreditando na inabalável moral propalada em caráter institucional. Outros, ainda, pretendem realizar críticas infundadas, pautadas na sua ignorância sobre a instituição militar, ou, movidas por traumas de infância, por fragilidade de caráter e por não saber qual é o peso de uma Colt 45 pendurada na cintura por vinte e quatro horas ininterruptas, o que, aqui, transmuto em metáfora, para comparar com o peso que os verdadeiros militares carregam (nas costas), quando estão tutelando o voo do Deputado Federal progressista, da moça de Copacabana que foi viajar às expensas da mamãe para a Europa, do traficante ainda não descoberto, a quem interessa toda essa polêmica. 

    Quem são os verdadeiros militares? Os que não dormem para que outros possam voar em segurança, ou os oficiais da reserva remunerada enfronhados na estrutura aeroportuária privatizada em cargos de diretoria? Respondo: os que carregam no seu senso de orientação profissional o espírito militar, com os valores que aprendeu a defender. Aqueles com os quais se identificaram e que vieram a acolher por deliberada escolha pessoal. Alguns podem até ser presos por seguirem tais valores de forma incondicional por ordem de um superior hierárquico que não dê muita bola para isso. Estou conseguindo passar a imagem da complexidade que se opera na caserna?

    As chamas da realidade, fora da caverna, dançam ao som da realidade, essa melodia ainda não inteiramente traduzida pela sociedade, a quem as formas importam mais do que o conteúdo efetivo.

    Ainda que eu tenha optado pelo direito - que habita o meu espírito - não me despi de muitos dos valores que aprendi na caserna, em especial, o senso de responsabilidade e a integridade moral, a que associei, posteriormente, à honestidade intelectual. A visão obtida de dentro e de fora media meu comedimento e senso de realidade. Como se estivesse contemplando do alto de uma montanha, a uma altura suficiente e, ao mesmo tempo,  o nascer e o por do sol, as primícias da manhã à direita e as estrelas se despedindo à esquerda.

    Como ex-militar e advogado, categorias profissionais que aprendem a se digladiar desnecessariamente, unifico minha experiência na disciplina rígida pela observância à ordem legal.  Mas só consigo vislumbrar na ordem jurídica alguma legalidade, quando se assenta em valores acatados por todos, valores sem os quais a obrigatoriedade sucumbe ao que no direito é chamado de ineficácia social normativa. No popular: as leis para inglês ver.

    Na caserna costuma-se dizer que o militar é o povo de farda. Meia verdade. Na sua grande maioria, composta por gente dos rincões de todo o território nacional, gente simples e que buscou na carreira militar, não raras vezes, a cura para a fome. Isso explica Jair comendo farofa nas redes? Raciocínio cuja validade se aplica ao universo das praças e graduados. Mas há latifúndios estabelecidos em relação aos postos superiores desde o golpe militar - o começo da desgraça brasileira -  que instaurou essa república de larápios e bajuladores que prevalece até os dias de hoje. Para mim, o fato histórico mais repugnante da história do Brasil. Chamam-no de proclamação da república (chega a dar asco)!

    Espero ter conseguido ilustrar, a partir da minha experiência, o campo fértil onde o bolsonarismo plantou suas sementes. Não o único, mas um dos mais importantes. Mostrar, quem sabe, que a caserna não é um ambiente que deva ser tratado de forma simplista e uniformemente considerado. Se for possível compreender esse ambiente, será possível decifrar a realidade da base que sustenta o fenômeno e compreender sobre o fermento que fez crescer o bolo de valores mobilizados por Jair. 

    Por que escrevi este texto? 

    Porque admiro Platão. Já dormi na caverna e já dancei em volta do fogo. Esse elemento poderoso que troca a luz pela opacidade da madeira. Porque é necessário consumir um, para que o outro possa aquecer e iluminar. Porque sombras são projeções que sustentam a imaginação e fomentam o temor do desconhecido, do ignorado. Porque é só da ignorância que precisamos nos libertar.

    Até a próxima! Se a Providência permitir.

    

    

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