quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Tenha bom senso!


Estava no recôndido de meu lar quando o interfone tocou, anunciando que a "moça do senso" estava subindo para realizar o......senso.
Recebi-a como quem recebe alguém que realiza um trabalho importante para a nação, com pompas de embaixadora brasileira para assuntos estatísticos, até que, ultrapassada a fase de recepção e quase apresentações, sentamo-nos e começamos o trabalho para o qual ela havia sido talhada. Estava ansioso, tentava me recordar de dados importantes e relevantes, enquanto fatores de determinação de custos, de direitos e de obrigações nessa relação esquizofrênica que mantemos com a figura do Estado.
A agente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) começou o seu trabalho: O imóvel é próprio? Apropriado, pensei, mas fui respondendo as suas indagações. Qual o seu salário? Hein!? Isso ainda existe? Calma. Me localizei e pensei em termo de remuneração por trabalho prestado, embora haja vezes em que se evidencia a remuneração por trabalhos não prestados, como pude constatar nesse dia. Quantas pessoas residem na casa? Eu respondi pela minha família e pela sua integralidade, mas a pergunta seguinte foi incisiva: Todos filhos da mesma mãe e do mesmo pai? Foi aí que eu me dei conta de como estamos ultrapassados. Meus filhos são meus e de minha esposa. Que careta! Muito obrigado, disse a ressenciadora. Ei, pensei comigo, só isso? Perguntei se aceitava um café, recusado em função do tempo que possuia para realizar com profundidade perguntas tão complexas e exaustivamente elaboradas. Pediu para que eu assinasse na tela do computador de mão. Eu não sei o que eu assinei, porque não há espaço para que se possa localizar a própria resposta, sendo estranho que se tenha que assinar numa maquineta pequena, ligada a algum órgão, como quem diz que o que está ali foi mesmo informado por quem assinou, sem que se possa ler o que se infirmou sobre o que se afirmou, afirmei eu ao demônio que me acompanhava (meu anjo disfarçou e foi para a cozinha rir).
Dois dias depois, andando pela Rua XV de novembro, parei numa banquinha de jornal e li a seguinte matéria de capa: "Senso revela a nova cara do Brasil". Pela pequena nota constante abaixo da manchete de capa, deu a impressão que insinuava-se que o Brasil havia crescido e que havia mudado de cara (para melhor?). Lembrei das perguntas que me foram feitas e indaguei aos meus botões: Com apenas aquelas perguntas era possível visualizar a cara do Brasil? No máximo, pensei, daria para imaginar a cara da Receita Federal ao saber o quanto eu não ganho e o que eu não tenho (posso até imaginar o risinho deboxado do Agente fazendário).
Dando os trâmites por findos, é impressionante o que o Estado é capaz de fazer, para manter no interior de seu intestino, as mesmas bactérias de sempre. Lá, lá, lá, brilha uma estrela, lá, lá, lá. Lá e cá parecem tratar do mesmo lugar. Bactérias intestinais geram diarréias estruturais. De uma hora para outra.
Que cara o Brasil tem com essas micro perguntas que me foram feitas (imaginando que isso ocorreu com todos), é fácil de responder. Não precisava nem ter contratado o IBGE alimentando-o com nossas receitas públicas. O Brasil tem a cara de......PAU!
Amanhã, caso vocês se deparem com estudos sobre a nova cara do Brasil, saibam que espelha um ano de eleição onde imbecis usam imbecis para alimentar a imbecilidade que mantém a estrutura risível de um país continental. A cara de mentira deslavada pelas águas da conveniência política, após uma maquiagem e um retoque com creme de sacanagem e aloé.
Que o doutor Pitangui comece a se preparar, pois a coisa tá mais feia do que parece, só que não aparece.
Até a cirurgia plástica que será feita em 2020, após o acidente que irá conduzir a desconfiguração da cara ....de...do...Brasil (musiquinha de ninar para as bactérias segurarem criancinhas no horário eleitoral gratuito). Merda! Vomitei de novo.

2 comentários:

  1. e chamam isso de "censo", embora com C, chamar isso de nova cara do Brasil é muita falta de bom Senso...

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  2. Ainda não fui rescenceado... estou ansioso para saber quais são as perguntas (todas). Será que sou careta? Ou será que estou na moda? E isso, revela a cara do meu Brasil?

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